Marc-X desembarcou entusiasmado da espaçonave na cidade de Trília, em seu primeiro voo para um exoplaneta. Na saída contornou o balcão de recepção onde os atendentes distribuíam panfletos contendo sugestões sobre áreas de interesse para visitantes e informações sobre os costumes locais. Cartazes afixados no salão de desembarque exibiam advertências sobre pontos perigosos e procedimentos indesejáveis, mas ele escolheu não ler nenhum deles, certo de que aquela era uma região civilizada onde moradores e visitantes eram conhecidos por serem pacíficos e cumpridores da lei.
Na primeira oportunidade que teve de caminhar pelos arredores do hotel, ele andou por ruas limpíssimas, se admirou com o trânsito organizado e com o grande número de pedestres em plena harmonia com veículos de todos os tamanhos. Nenhuma sinalização de trânsito era visível. Marc então avistou os bares com seus letreiros brilhantes e atrativos. Ele entrou em um deles, pediu uma bebida qualquer, cujo nome nunca ouvira antes, e se dedicou a olhar as diversas mulheres espalhadas pelo salão, a maioria delas desacompanhadas. Eram mulheres belíssimas, muito maiores que humanos da Terra, com pele morena e membros um pouco mais longos, proporcionalmente. Seu coração se acelerou quando ele notou que uma delas olhava para ele com igual admiração. Apesar de não conseguir interpretar todas as nuances de seu olhar, ele teve certeza de que ela o convidava para ir-se sentar à mesma mesa – algo que ele fez sem titubear.
Ela se apresentou sem mostrar qualquer insegurança: “Meu nome é Gianne e te considero um belo exemplar de macho terrestre”. Disfarçando seu desconforto, ele aceitou aquela abordagem sem rodeios. O olhar da jovem era profundo e penetrante e, em pouco tempo, ela parecia ter devassado por completo as intenções do humano. “A minha vontade” ela disse com uma sensualidade incomum para ele, “é de te devorar”. Dizia isso e sorria maliciosa, estampando no rosto uma doçura que ele jamais vira antes. “Faça isso”, ele respondeu, se esforçando para exibir o mesmo carisma e graça.
Ela pegou um guardanapo de papel no centro da mesa, e uma caneta que tirou de dentro de sua blusa. “Você me autoriza a fazer isso?”, ela perguntou em tom de brincadeira. “Claro!”, ele respondeu, e pegando o papel escreveu: “Te autorizo a me devorar…” assinando o nome em um canto do guardanapo.
Gianne não demorou mais que poucos segundos para pegar o papel, pular para cima da mesa com as pernas dobradas como um felino e as mãos espalmadas sobre o tampo. Com um movimento rápido de braço, ela quebrou o pescoço de Marc. Em seguida, ela se levantou, pegou cuidadosamente o corpo já inerte do homem, colocou sem dificuldades sobre os ombros e saiu caminhando devagar em direção à porta. Na saída ela mostrou para os seguranças do local um documento de identificação e o guardanapo assinado por Marc-X. Depois saiu para a rua sem que ninguém esboçasse qualquer reação de surpresa.
No balcão do bar, dois garçons se entreolharam e fizeram um breve comentário sobre a imprevidência dos jovens terrestres que visitavam Trília.