Justiça, recompensa e punição


— Muito bem, mas vejamos… o que é justiça? — Ele fez uma pausa mas não esperou a resposta de eLui. Quando viu que o mecko ia começar a falar ele continuou seu balbucio:

— Justiça é a atribuição correta de recompensa ou punição para o indivíduo, grupo de indivíduos ou para a comunidade.

— Sim — disse eLui. — Continue. De onde vem a necessidade de recompensa ou punição?

Giorge não prosseguiu. Ele não conseguiu fazer a conexão entre estes conceitos que pareciam arbitrários e artificiais com qualquer outro princípio natural. Mas eLui ofereceu ajuda:

— Não se esqueça de como funciona o seu cérebro, e como isto rege o seu comportamento. Por que você se levantou hoje e veio direto para a mesa de refeições?

— Ah, sim — exclamou Giorge, animado com a luz acesa em sua mente. — Recompensas e punições. Meu cérebro me pune com o sofrimento quando não forneço o necessário para meu corpo. E me recompensa com o prazer quando satisfaço essas necessidades. Mas… roedores que viram comida e raposas que os devoram não possuem também cérebros capazes de aplicar recompensa e punição, prazer e dor? E, se possuem, por que não se aplica a eles o conceito de justiça?

— Sim, eles possuem cérebros regidos pelos mesmos princípios — respondeu eLui. — Mas o cérebro dos seres autoconscientes possui uma camada fina responsável pela autorreflexão. Só eles sabem que estão vivos, só eles percebem que morrerão. A necessidade que estes seres têm de uma vida social os obriga a estabelecer códigos. Para me sentir seguro eu preciso saber que você não vai atirar em mim apenas porque está triste ou com fome. Os códigos, escritos ou implícitos, são uma extensão da regra básica que rege o cérebro: faça o que é certo e você se sentirá bem. Cometa um delito e você será alcançado pelo “longo braço da lei”.

Giorge riu. “Longo braço da lei” era uma expressão corriqueira usada como piada e significando uma ameaça de vingança. Algo como “ainda me vingarei!” Os dois se levantaram e se encaminharam para outro ambiente onde costumavam estudar, com quadros multimídia e programas de apoio à memorização. Após a aula teórica eles poderiam sair, como sempre faziam, para obter uma experiência de campo, observando, coletando dados e realizando experimentos. E teriam todo o tempo necessário para continuar o debate.

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